quinta-feira, 12 de janeiro de 2012

Itália: Calciocrise ou Calcioclasse?


Muito se tem escrito sobre o futebol italiano nestes últimos anos, sobretudo desde a histórica descida de divisão da também ela histórica Juventus, que como se sabe se ficou a dever ao escândalo de viciação de resultados em terras transalpinas, o famoso calciocaos. Mas esta bomba que rebentou por lá e que ainda hoje tem sequelas veio comprovar aquilo que era óbvio desde há muitos anos até á fatídica época 2004/05: o futebol italiano estava em crise, tinha deixado de ser a grande “nata” do futebol europeu e caminhava a um ritmo vertiginoso para a segunda divisão europeia. Não por não ter jogadores de grande qualidade, porque os tinha e ainda hoje os tem, mas tinha-nos em (muito) menor qualidade, o que, aliado ao grande boom do futebol inglês e espanhol, levou ao seu declínio.
A Juventus lá conseguiu voltar ao principal escalão, ao mesmo tempo em que Mancini e Mourinho iam ganhando títulos pelo Inter de Milão, com especial destaque para o extraodinário feito de Mourinho, mas com plantéis muito débeis em relação á sua história, enquanto que o AC Milan caminhava pelas ruas da amargura.
Actualmente o futebol italiano tem vindo a recuperar e, a espaços, vai conseguindo apresentar provas que está no bom caminho, como é o caso da conquista da Champions por parte do Inter de Mourinho ou, ainda esta época, as dificuldades que o supra-sumo Barcelona teve na fase de grupos contra o Milan. Mas como fizeram os italianos para voltar á auto-estrada onde já circulavam alemães, espanhóis e ingleses? A resposta é simples: classe. É um facto que não estão ao mesmo nível da Premier League, da Liga espanhola ou da Bundesliga, mas os plantéis italianos apresentam uma qualidade colectiva-e não de apenas alguns jogadores- que já não se via há muitos anos.
O Milan perdeu Kaká é certo, mas juntou a Seedorf, Nesta, Gattuso, “Pipo” Inzaghi e Van Bommel (jogadores que não estarão muitos mais anos em campo) Robinho, Cassano, Ibrahimovic, Emanuelson e Thiago Silva, que apesar de nenhum ter menos de 25 anos, têm ainda muitíssimo para dar ao futebol. Depois a estes nomes acrescentam-se outros dois que dão uma qualidade (muitíssimo) extra á equipa: Alexandre Pato, um fantástico avançado, finalizador, de olhos postos na baliza e extremamente móvel e perspicaz, e o grande motor da equipa, “o” jogador deste Milan: Kevin Prince-Boateng faz maravilhas com a bola nos pés e entra sempre no onze inicial, quer seja no falhado 3-5-2 em que Allegri insistia no início da época com Gattuso/Van Bommel, Aquilani, Abate e Ambrosini a fazer-lhe companhia, quer seja no actual 4-4-2 em que actualmente o clube joga. É daqueles jogadores que sozinho chama adeptos ao estádio.
Depois há a rejuvenescida Juve, com o adolescente Pirlo a tomar as rédeas da equipa como número 10, apoiado por Marchisio na posição 6 e Pepe e Giaccherini nos flancos, deixando a frente de ataque para a dupla ofensiva composta na maioria das vezes por Del Piero (37 anos e ainda a espalhar magia) e Matri, num 4-4-2 losango nada habitual pelos lados italianos. O “senão” desta equipa é que tem muitos jogadores no plantel que estão em subaproveitamento, nomeadamente Krasic e Elia.
A Roma é a equipa italiana que mais cresceu nos últimos anos, mas ainda não chega para as lides europeias. Com jogadores de classe como Bojan Krikic, Pjanic, De Rossi, Totti, Heinze e Lamela, o novo treinador e ex-jogador do Barça Luis Enrique teve muitas dificuldades no começo da temporada em impor o seu cunho pessoal na equipa, mas aos poucos vai conseguindo modelar a equipa. A Roma é a equipa italiana que menos parecenças tem com o futebol defensivo característico deste país, já que procura a bola, não fica á espera do adversário, procura incessantemente a baliza do oponente, procurando mais e mais golos.
Por fim está o Inter de Milão, que não obstante a tremenda qualidade do seu plantel, que inclui nomes como Fórlan, Milito, Sneijder, Maicon, Zanetti, Stankovic e o já transferido Eto’o, tem sido uma desilusão desde que Il Speciale abandonou o clube. Jogos fracos, sem ideias, pouca circulação de bola, falta de velocidade têm sido uma constante nesta equipa, que ainda não se encontrou esta época. Acresecenta-se a tudo isto o fraco sector defensivo, que não é só um problema do Inter, mas também de todos os seus principais rivais, o que em Itália deveria ser quase impossível de se verificar.
Em suma, todas as semanas vê-se muita classe a desfilar pelos campos italianos, mas muito trabalho tem ainda que ser feito para o país voltar a ser uma potência do futebol e assim obter e reter no seu campeonato jogadores -e treinadores- de craveira a nível mundial, pois é importante referir que numa década, Itália viu sair para outras paragens Kaká, Balotelli, Pastore, Trezeguet, Capello, Mancini, Ancelotti, para álem de Toldo, Nedved, Maldini e Costacurta.

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